m@ser

6.30.2010

Depois de o meu primo definir cruzar a vida por uma mais saída ao mar, passei meses, meses; sempre que ia ao mar, entrando no local onde nós nos habituamos a entrar – O Cais da Figueirinha –, a olhar para o lado mais fora, e, seguir o meu olhar, por entre muitas, até À Pedra, e olhar a arma dele com o arpão enfiado nessa. Durante muito tempo, até um temporal desmontar o cenário, quando ia à minha vida de mar passava por esse paisagem sem nunca ter a coragem de ir lá descortinar o porquê. O medo, daquilo que sei do mar, que lá fosse encontrar um porquê demasiado banal que não justificasse a vida humana. E assim fiz, no dia 16 de Abril de 2009.
Desloquei-me À Pedra. Sim, era uma Abrótia que estava na pedra. Uma pedra dificílima para tirar peixe que fosse quanto mais uma Abrótia. Era preciso colar a arma num arco, a lanterna noutro, e, esperar que o peixe saísse. Comigo o peixe não saiu ao tiro. Eu fui-me embora. Mas estando na cabeça do meu primão, com a certeza dos seus vinte anos, aquela Abrótia era para ser caçada logo, daí o excesso de tempo que ele lá passou à espera, depois de arma, num local, e, lanterna de outro, e esperar e esperar para que ela puse-se a cabeça de fora a tiro.

Assim, fica para mim compreendido o porquê desse excesso de apneia.

Não existe vez que a colocar as barbatanas ou as meias para ir ao mar que não me lembre de ti primão.
Mas agora mais descansado comigo e com o mundo pois fizeste-me perceber da maneira mais brutal que já não tenho vinte anos.

Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem entre os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Fernando Pessoa in Poemas Dramáticos